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Armas

A questão que, incrivelmente, ainda vem sendo discutida: Rifle, Fuzil ou Carabina?

Arquivo pessoal: Lincoln Tendler

Como praticamente todos sabem, a língua portuguesa foi (e vem) se formando através dos anos e, como tal, tem como base muito do grego, do latim e de outros tantos idiomas que ainda a permeiam; e o inglês, o francês e até mesmo o castelhano e o árabe são um bom exemplo disso tudo. Em suma, uma bela salada mista!

Afinal, algumas mutações acabam, inclusive, indo parar em dicionários após terem caído no gosto do público em geral. Não fosse pelos regionalismos de nosso País, certamente entenderíamos qualquer tipo de expressão utilizada em outros Estados. Lembro, ainda, que dicionários não primam por definições exatas como sói ocorrer em uma enciclopédia; e isso ocorre porque os dicionaristas não são exatamente especialistas em todos os assuntos! Desse modo, cometem erros inenarráveis.

Pois bem. Em uma discussão que já vai longe, existem certos termos que “teimam” em permanecer ativos – e o vocábulo “rifle” é tão somente um deles, lembrando que mesmo na indústria automobilística surgem palavras que podemos considerar como execráveis dentro de um espectro que abrange várias regiões brasileiras. Como exemplo temos “breque” (basicamente muito empregado em São Paulo, assim como “farol” quando designa um semáforo e “carta de motorista” para significar Carteira Nacional de Habilitação). 

Assim, é importante definir uma aplicação em função de oferecer imediato entendimento à maioria, senão a todos. E, baseado em tal conceito, tive a oportunidade, há muitos anos, de escrever um artigo para a Revista MAGNUM exatamente sobre o assunto e, é claro, embasado em longa pesquisa e também pelo fato de que fui, por vezes, convidado a opinar sobre Terminologia Técnica junto à ABNT (ao tempo em que trabalhei na Mercedes-Benz) e ao EB (quando era funcionário da Engesa). Recomendo a leitura do texto de MAGNUM em questão para melhor compreensão deste.

Posto isso, eis o que, basicamente, está naquela matéria de MAGNUM:

1.  O princípio básico para que se possa entender a palavra “rifle” – conforme depreendido no início desta explanação – demanda uma busca inicial por sua origem, qual seja a língua inglesa. Então é definido “rifle” tão somente como uma arma longa dotada de cano com alma raiada! Daí pode-se depreender que essa palavra não define precisamente que tipo de armamento é esse (seria um FUZIL? Uma CARABINA?). Essa é, então, a razão inicial pela qual não devemos empregá-la, posto que um vocábulo visa determinar, com exatidão, aquilo a que nos referimos. Isso até mesmo explica a razão pela qual faca, canivete, facão, bisturi, estilete e baioneta etc são objetos diferentes, mesmo que todos pertençam à nobre classe das Lâminas…

A. Estão envolvidas na utilização desta palavra (“rifle”); ou das que vêm a substituí-la, vários outros fatores para definir os conceitos de fuzil e carabina: comprimento de cano**, tipo de munição a ser utilizada (normalmente se pode definir uma carabina, sob tal aspecto, quanto ao tipo de cartucho empregado – sendo esse apenas aquele que também é utilizado em armas curtas, ou seja, pistolas ou revólveres).

Contudo, há uma zona que poderíamos apelidar de “cinzenta” quando envolve, por exemplo, munição que, para nós, brasileiros, é considerada “de fuzil”: o exemplo clássico é composto pelos cartuchos 5,56 mm / .223”. Juro para Você que, nos EUA, os calibres citados, são… de carabina!

B.**Por definição na Terra de Tio Sam, um cano de carabina deveria ter, basicamente, de 16 a 20 polegadas de comprimento, mesmo “calçando” munição de pistola, revólver ou fuzil. A notícia mais atual sobre o assunto nos dá conta de que tal tipo de armamento deve ser dotado de um “brace”; e não de uma coronha, quando é então denominado de Pistol carbine.

C. Daí temos que, por serem cartuchos na configuração “garrafinha”, apenas em tese e inicialmente, são por aqui considerados “de fuzil”. A plataforma AR, a qual deu origem a diversos “filhotes” (AR-15, M16, M4 e outros tantos), seria a responsável por tal “engano”. In tempo: lá também existem carabinas baseadas no também famoso fuzil Kalashnikov, tanto em 5,56 mm / .223” quanto no cartucho original, o 7,62 x 39 mm.

D. Contudo, não são apenas esses os fatores que levam a erros de definição: para os mais puristas, até mesmo a potência dos citados calibres tem importante papel dentro do assunto que ora nos propomos a discutir.

E. Outro aspecto interessante é o marketing: exemplificando, a brasileira CBC continua a chamar as carabinas por ela fabricadas de “rifles”; e assim são conhecidas pelo mercado, em nada auxiliando nossa luta para utilizarmos a palavra correta. Estratégia de vendas? Possivelmente. Dentro de tal conceituação, a palavra carabina ficaria talvez relegada, pela citada Companhia, àquelas armas longas denominadas “de pressão”. Interessante, não?

F. E, não tão importante – mas somente à guisa de melhor compreensão idiomática, é que nós, brasileiros, temos a errada “mania” de chamar carbine de carbáine (só os não afeitos à pesquisa linguística empregam tal pronúncia. Afinal, ela deriva de uma palavra francesa). Analogamente, é bem comum denominarmos os cães Yorkshire de…Yorksháire! ou seja, o sufixo “shire” passa a ser “sháire” – erro que faz com que os Brazucas, quando em Los Angeles e à procura da famosa Wilshire Boulevard, passem um perrengue ao perguntar sobre uma tal “Wilsháire”, palavra que muitos norte-americanos geralmente não entendem… E vou parar com esta digressão, pois aí entraria na seara de os Hermanos da Argentina e de muitas outras nações de habla castellana chamarem São Paulo de San Pablo! Que tal se enviássemos uma carta a um endereço de Buenos Aires, denominando aquela linda cidade de… Bons Ares? Será que chegaria ao destino?

2. Em função do até agora descrito, eu poderia parar por aqui – mas há outras nuances relacionadas à Terminologia que servem para subdividir, com exatidão, aquilo que queremos definir sem dúvidas. Vamos à elas?

3. Para não me alongar por demais no assunto, por aqui encerro as razões pelas quais não se pode chamar uma arma longa, de alma raiada, simplesmente como rifle.

É claro que que tais armas, quando são capazes de dar rajadas, saem totalmente da definição de Carabinas e passam a ser Fuzis (não nos esquecendo, paralelamente, das Metralhadoras de Mão (apud o EB: Mtr M), erradamente denominadas de Submetralhadoras, cuja característica principal é a possibilidade de disparo em regime automático): elas não caem em nenhuma das denominações anteriores, fundamentalmente pelo pequeno comprimento de cano. Lembro, ainda, que certas UZIs são vendidas nos EUA como carabinas – mas para isso devem ter cano mais longo e não serem capazes de disparar rajadas. Vá alguém adquirir uma arma dessas e serrar o cano! Dá cadeia na certa! Dura Lex, sed Lex!

4. E, para complementar a resposta à pergunta que ensejou este artigo: “Uma carabina é uma arma longa que teve seu cano diminuído, de fábrica, em comprimento em relação ao original OU pode-se considerar que uma carabina moderna seria simplesmente um fuzil em versão compacta OU um fuzil cuja câmara foi modificada, assim como partes de seu mecanismo, para receber cartuchos menos poderosos.

Arquivo pessoal: Lincoln Tendler

Lincoln Tendler é Editor/Coordenador Internacional de MAGNUM além de possuir uma página na Internet denominada Parabellum com Lincoln Tendler , em parceria com o Amigo de longa data, Cel PMSP Santiago. Lá o Leitor poderá acompanhar vários Testes de armamento, alguns deles exclusivos!

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